Arte Tumular


Quem gosta de esculturas e não tem medo de fantasmas como eu, tem nos cemitérios, uma bela amostra a céu aberto com obras de grandes artistas.














Famílias aristocratas das grandes cidades passaram a encomendar túmulos aos melhores escultores, maioria europeus. Investir fortunas para importar materiais como mármore de Carrara, granito e bronze não era problema. Isso conformou uma classe artística diferenciada, a dos escultores tumulares que, ao perpetuar a grandeza econômica e o poder da classe dominante da época, ainda hoje são admirados por aqueles que se interessam em percorrer os cemitérios mais antigos das mais distintas cidades do mundo.

























O Cemitério da Recoleta é o mais antigo e aristocrático de Buenos Aires - Ar. Em seus quase seis hectares estão sepultados heróis da Independência, presidentes da República, militares, cientistas e artistas. Entre eles, Eva Perón, Adolfo Bioy Casares e Facundo Quiroga. Os sepulcros e mausoléus foram obras, em muitos casos, de importantes arquitetos. Mais de 70 mausoléus foram declarados como Monumentos Históricos Nacionais.










O túmulo mais famoso da Recoleta, sem dúvida é o de Eva Perón, com sua inscrição mística de “voltarei e serei milhões”. O cadáver de Evita só foi descansar ali três décadas após sua morte, depois de um périplo macabro de seqüestros políticos e perversões sexuais.
“A oligarquia a desprezou durante toda sua vida, mas na morte ela é a mais visitada deste cemitério, onde está enterrada toda a elite argentina"



Por ironias da história, a poucas centenas de metros da senhora Perón está o túmulo do general Aramburu, líder do golpe militar que derrubou seu marido, em 1955. Ele ordenou que o corpo de Evita fosse sepultado na Itália, sob nome falso. Nos anos 70, Aramburu foi seqüestrado e assassinado por guerrilheiros peronistas, os Montoneros. Não satisfeitos, anos depois eles seqüestraram o cadáver, num de seus enfrentamentos com os militares e a direita peronista.



No século XVI os padres recoletos fundaram a Igreja de Pilar (que está ao lado do cemitério) e era aí onde os ricos eram enterrados. Era costume deixar os restos mortais dos ilustres da cidade na igreja e quanto mais próximo do altar, mais importante era a família. Depois de uma reforman político-religiosa na Argentina, foi determinado que não seriam mais enterradas pessoas nas igrejas, o que despertou um descontentamentos nos ricos. Para compensar, as famílias abastadas resolveram então constrir suas próprias capelas para enterrar seus mortos ao lado da igreja. Foi assim que começou a construção das tumbas de Recoleta.