Mendigos dessas Idas Y Vindas.



Mendigos dessas Idas Y Vindas - coitados desses pobres homens invisíveis do nosso dia-a-dia que não tem como viver, e ainda enfrentam a discriminação.
Gosto muito do poema “Mendigos” que João da Cruz e Souza agrupou no “O Livro Derradeiro”.



João da Cruz e Sousa, que nasceu em 24 de novembro de 1861 foi um poeta brasileiro, alcunhado de Dante Negro e Cisne Negro. Foi um dos precursores do simbolismo do Brasil.



Mendigos! Ah! são mendigos
Que voltam de vãos caminhos,
Que atravessaram perigos,
Urzes, pântanos, espinhos.



Que chegam desiludidos
Das portas a que bateram;
Humanos, grandes gemidos
Que nos tempos se perderam.


Que voltam como partiram,
Com mais amargor na volta
E mais sonhos que se abriram
Das estrelas na recolta.


Mendigos ricas no entanto,
Das pompas da natureza
E das auréolas do Encanto,
Os vinhos da sua mesa.


Mendigos que o sol, apenas,
Torna nababos felizes,
Torna um pouco mais serenas
As convulsas cicatrizes.


Mendigos que acham requinte
Na fumaça de um cachimbo,
Deixando que labirinte
O sonho em tão leve nimbo.


Mendigos da luz da aurora
Cantando celestemente,
Fresca, límpida, sonora,
Pelas fanfarras do Oriente.


Mendigos de áureas estradas,
De sonâmbulas veredas,
De riquezas encantadas,
Sem pedrarias e sedas.


Mendigos d'estranho aspecto
E sempiterna vigília,
Filhos nômades, sem teto,
De milenária Família.


Mendigos que erram eternos
Sem fadigas e sem sono,
Sob o augúrio dos Infernos,
Das Ilusões sobre o trono.


Mendigos de plaga nova,
De novas terras e mares,
Divinizados na cova
Como as hóstias nos altares.


Mendigos da grande esmola
Da luz das estrelas nobres,
Que fulge e dos altos rola,
Entre as suas mãos tão pobres!


Mendigos de céus remotos,
De sóis dos mais velhos ouros;
Com a sua fé e os seus votos
E os seus secretos tesouros.


Mendigos de olhar severo,
Boca murcha, meio amarga...
Tendo um vago reverbero
De sonhos na fronte larga.


Mendigos de ínvias florestas
E de bosques fabulosos,
De melancólicas sestas
Nos crepúsculos brumosos.


Mendigos da Eternidade,
Tremendo dos sóis, dos frios,
Nas mortalhas da Saudade
Amortalhados sombrios.


Mendigos dos Infinitos,
Das Esferas inefáveis,
Noctambulando malditos
Nos rumos imponderáveis.



Mendigos de fome e sede
De água e pão de outros mundos,
Embalados pela rede
Dos Idealismos profundos.



Mendigos do azul Mistério,
Cuja alma — nívea sereia —
Fica saciada no aéreo
Pão branco da lua cheia!

Argentina - Província de Buenos Aires


A mí se me hace cuento que empezó Buenos Aires:
La juzgo tan eterna como el agua y como el aire.
Jorge Luis Borges, "Fundación Mítica de Buenos Aires"




















A redução de São Miguel Arcanjo - RS


Na infância tive a oportunidade de viajar com meus colegas da escola para alguns lugares interessantes no Rio Grande do Sul, como a Serra Gaúcha, algumas praias e também para as Missões. Não recordo qual foi o motivo mas este último destino foi o único lugar que não fui. Depois de tantas "idas y vindas" por este Rio Grande chegou o dia. São Miguel das Missões me esperava com todo ar místico.


A pequena e simpática cidade de São Miguel das Missões está à 485 km da capital Porto Alegre, é lá que está o maior legado dos Sete Povos missioneiros, pois abriga o sítio arqueológico da redução de São Miguel Arcanjo. É o testemunho mais imponente e bem preservado da arquitetura jesuítica missioneira.


As ruínas desta redução foram declaradas Patrimônio Mundial pela UNESCO em 1983.
Missões ou reduções são denominações atribuídas a antigos aldeamentos indígenas organizados e administrados por jesuítas no Novo Mundo, como parte de sua obra maior de cunho civilizador e evangelizador, que compreendia também a fundação de colégios e conventos.
O objetivo das Missões foi o de criar uma sociedade com os benefícios e qualidades da sociedade cristã européia.



Existe uma lenda sobre esta cruz, conhecida como Cruz de Carnavaca, Cruz de Lorena ou Cruz Missioneira.
Caravaca é uma linda e antiga cidade do interior da Espanha (perto de Múrcia). Na época que estive por lá conheci a lenda que um Príncipe Mouro desejava conhecer a fé cristã da região. Quando soube que um de seus prisioneiros era um Padre ordenou que celebrasse uma missa. Seus servos limparam uma sala do castelo de Alcázar e montaram um altar de acordo com a lista e especificações do sacerdote preso. No dia escolhido para a celebração estavam presentes não só o príncipe mulçumano, mais toda a sua família, seus servos e alguns soldados. Logo no início sentiu falta da cruz no altar, por seu esquecimento ela não foi colocada na lista. Apreensivo, teve que explicar a todos que não poderia continuar. O Príncipe ficou muito decepcionado e frustrado. Diante desta situação um milagre teria acontecido: teria surgido pela janela dois anjos trazendo uma cruz que teria sido levada até o altar.


O Príncipe, sua família e todos os mulçumanos que estavam no local teriam se convertido ao cristianismo e o pároco e os prisioneiros foram libertados.
Esta Cruz Missioneira branca (está na entrada da cidade) serviu de base segura para a construção de um ninho de João-de-barro.










Recomendo passar o dia conhecendo outros municípios interessantes da região e esperar o anoitecer. O pôr do sol é bonito e o "Espetáculo de Som e Luz" nas ruinas é incrível.